O
paradigma espírita, apoiado nas próprias declarações de Jesus, acentua.
"Há muitas moradas na Casa de meu Pai" (Jo; 14:2), axioma que, na
filosofia espírita, aponta para o princípio da Pluralidade dos Mundos
Habitados. O desejo humano de alçar vôo ao espaço, em astronaves
(pilotadas ou não), e descobrir outros planos onde existissem seres
similares a nós, povoou os livros de ficção científica e cristalizou-se
nas chamadas expedições e viagens espaciais. Na esteira da conquista
intelectual e tecnológica dos terráqueos, chega-nos agora a notícia de
que a aeronave Spirit, um robô de exploração norte-americano, pousou em
marte, o Planeta Vermelho.
VIDA EM MARTE
Os conceitos espíritas ante as pesquisas espaciais
Por Marcelo Henrique
Diretor de Política e Metodologias de Comunicação,
da Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo (ABRADE) e
Delegado da Confederação Pan-Americana (CEPA) para a Grande Florianópolis.
O paradigma espírita, apoiado nas próprias declarações de Jesus,
acentua. "Há muitas moradas na Casa de meu Pai" (Jo; 14:2), axioma que,
na filosofia espírita, aponta para o princípio da Pluralidade dos Mundos
Habitados.
O desejo humano de alçar vôo ao espaço, em astronaves (pilotadas ou
não), e descobrir outros planos onde existissem seres similares a nós,
povoou os livros de ficção científica e cristalizou-se nas chamadas
expedições e viagens espaciais. Na esteira da conquista intelectual e
tecnológica dos terráqueos, chega-nos agora a notícia de que a aeronave
Spirit, um robô de exploração norte-americano, pousou em marte, o
Planeta Vermelho. Foram sete meses de viagem, totalizando 487 milhões de
km, e a sonda, após vencer as dificuldades de aterrissagem, poucas
horas depois do pouso, abriu seus painéis solares e antenas de
comunicação, para, enfim, transmitir as primeiras imagens da superfície
marciana, conforme noticiaram as agências internacionais de comunicação,
baseadas em informes da NASA.
Enquanto a atenção dos cientistas, pesquisadores, estudiosos e, é claro,
dos curiosos de plantão se debruça sobre as notícias e aponta para
conjecturas ou probabilidades, o que nos afiança a ciência e a filosofia
espíritas? Em essência, o que haverá, espiritualmente, em Marte? Como
serão seus habitantes e qual a característica fundamental do planeta, na
hierarquia dos mundos?
Recordemos, inicialmente, a teoria espiritista para a catalogação dos
mundos: primitivos, provas e expiações, regeneradores, felizes (ou
ditosos) e celestes (ou divinos). Partindo da premissa de que a Terra
ainda acha-se adstrita à condição espiritual de provações/expiações,
quais as referências espíritas/espiritualistas sobre a questão do grau
de evolução de Marte?
Buscando, primordialmente, a própria Codificação, resgatemos a Allan
Kardec (codinome do Professor francês Hippolyté Leon Denizard Rivail,
cujo bicentenário completa-se em 2004), ao tratar do tópico "Encarnação
nos diferentes mundos", no capitulo IV (Da Pluralidade das Existências),
da segunda parte de O livro dos espíritos (abril de 1857), em nota de
rodapé à questão no. 188, pontuou: "Segundo os Espíritos, de todos os
mundos que compõe o nosso sistema planetário, a Terra é dos de
habitantes menos adiantados, física e moralmente. Marte lhe estaria
ainda abaixo, sendo-lhe Júpiter superior de muito, a todos os
respeitos".Corrobora tal afirmação à manifestação de Kardec, com base no
ensino dos Espíritos, em texto contido na Revista espírita, edição de
março de 1858, no tópico "Júpiter e Alguns Outros Mundos", assim oposto:
"Segundo os Espíritos, o planeta Marte seria ainda menos avançado do
que a Terra; os Espíritos que nele estão encarnados pareceriam
pertencer, quase exclusivamente, à nona classe, a dos Espíritos impuros,
de sorte que o primeiro quadro, que demos acima, seria a imagem desse
mundo [1][1]. Vários outros pequenos globos, estão, com algumas nuanças,
na mesma categoria. A Terra viria em seguida; [...]". Ainda nesta obra,
em número posterior, de outubro de 1860, o espírito Georges assim se
pronuncia; "Marte é um planeta inferior à Terra da qual é um esboço
grosseiro; não é necessário habitá-lo. Marte é a primeira encarnação dos
demônios mais grosseiros; os seres que o habitam são rudimentares; têm a
forma humana, mas sem nenhuma beleza; têm todos os instintos do homem
sem o enobrecimento da bondade.
[...]
Neste planeta a terra é árida; pouca verdura; uma folhagem sombria que a
primavera não rejuvenesce; um dia igual e cinza; o sol, apenas
aparente, nunca prodigaliza as suas festas; o tempo escoa monótono, sem
as alternativas e as esperanças das estações novas; não há inverno, não
há verão. O dia, mais curto, não se mede do mesmo modo; a noite reina
mais longa [...]; o mar furioso separa os continentes sem navegação
possível; o vento ruge e curva as árvores até o solo. As águas submergem
as terras ingratas que elas não fecundam. O terreno não oferece as
mesmas condições geológicas da Terra; o fogo não esquenta; os vulcões
são ali desconhecidos; as montanhas; apenas elevadas não oferecem
nenhuma beleza; elas cansam o olhar e desencorajam a exploração; por
toda a parte, enfim, monotonia e violência; por toda a parte, a flor sem
a cor e o perfume, por toda a parte, homens sem previdência, matando
para viver."
Há, é bem verdade, nas outras obras da codificação e na própria Revue,
alguns outros detalhes sobre a pluralidade dos mundos, nos quais Kardec,
prudentemente, teceu comentários ou reproduziu mensagens mediúnicas, de
maneira genérica, com anteparo em expressões nada categóricas,
utilizando-se por vezes, de formatações verbais em tempos condicionais e
imperfeitos, tal a imprecisão dos dados físicos, não configurando,
amiúde, postulados ou princípios doutrinários. De outra sorte, a
preocupação maior do mestre lionês foi a caracterização moral-espiritual
dos habitantes das diversas categorias de mundos, apresentando, apenas,
alguns traços da constituição físico-material dos mundos, conforme os
Espíritos lhe apresentaram, sem maiores acréscimos.
Secundariamente, podemos aqui resgatar, também, outras manifestações de
origem espiritual, apostas em livros posteriores à Codificação, que, em
diversas ocasiões, apresentaram Marte como um planeta superior à Terra
e, portanto, contradizendo os informes contidos naquela. É o caso das
seguintes obras (e autores): Cartas de uma morta (Maria João de Deus -
espírito; 1935); Emmanuel (Emmanuel/Francisco Cândido Xavier, 1938):
Novas mensagens (Humberto de Campos/Francisco Cândido Xavier, 1939); A
vida no planeta Marte (Ramatis/Hercílio Maes, 1955); e, Urânia (Camille
Flammarion, 1864/1951 - 1ª edição brasileira) [2] [2].
Em face da aparente (ou, em alguns casos, pontual) contradição entre os
ensinos de diferentes espíritos e/ou entre estes e as conclusões de
autores encarnados, como o astrônomo francês Flammarion, devemos nos
apoiar no axioma da valorização primordial da Codificação sobre
quaisquer outros considerandos, tendo em vista que a obra dirigida pelo
Professor Rivail acha-se em posição superior às demais, pela utilização
dos conhecidos lógica e bom-senso kardequianos, calcado no principio da
"universalidade do ensino dos espíritos", cuja metodologia encarta a
recepção e seleção objetiva de diversas mensagens, em épocas e locais
distintos, através de fidedignos e diferentes médiuns. Efetivamente,
acatando a possibilidade da ocorrência de novas "revelações" espirituais
aos homens, entendemos que o posicionamento de um ou outro autor,
contrário ao contido nos postulados da Doutrina Espírita, há que merecer
acurado estudo de nossa parte, sendo referendado, se for o caso, por
manifestos espirituais constantes e sucessivos, com base nos mesmos
critérios, denotando a perspectiva da revisão do trabalho do preceptor
francês, o que, em essência, ainda não foi intentado.
Em paralelo, atentemos, ainda, para a afirmação sobejamente repetida e
creditada a Emmanuel (o mentor de Francisco Cândido Xavier), no sentido
de que, na hipótese de constatação de contradições entre o teor de
mensagens mediúnicas e o texto original codificado, que ficássemos com o
segundo.
Aquilo que conhecemos das pesquisas espaciais, baseados primordialmente
em fotos ou análises geológicas à distância, permitem, até o momento,
certa correlação com os informes espirituais que estiveram sobre a
supervisão de Allan Kardec, sobretudo aqueles assinados pelo espírito
Georges. Não sabemos, entretanto, se todas as especificidades trazidas
por este, mormente no que concerne à vegetação e à vida animal estarão
sendo confirmados nos próximos dias - ou anos - de pesquisa.
E, em verdade, não podemos olvidar o próprio ensino dos espíritos, no
que concerne à possibilidade da marcha do progresso humano-cientifico
superar as informações espirituais reveladas ao Codificador, calcado na
assertiva de que "se o progresso da Ciência superar os princípios e
postulados espíritas, que fiquemos com a Ciência", na sequência do que o
próprio Kardec assinalou: "fé inabalável só o é aquela que pode encarar
a razão, frente a frente, em todas as épocas da Humanidade".
Deste modo, cumpre-nos concluir:
1) Os argumentos espirituais apostos na Codificação permanecem, a
priori, válidos e irretocáveis, no que concerne à configuração
planetário-espiritual de Marte;
2) As informações espirituais/espíritas posteriores à Codificação,
algumas até contrarias, salvo melhor juízo e comprovação, devem ser
encaradas como opinião pessoal de espíritos e médiuns, servindo de fonte
para estudos comparativos e complementares, por parte dos espiritistas,
não devendo ser aceitas como postulados espíritas, uma vez que não
foram submetidas aos mesmos critérios metodológicos de pesquisa do
trabalho kardequiano;
3) As pesquisas e descobertas científicas até o momento convergem no
sentido das informações trazidas pelo Espírito de Verdade, na reunião
dos ensinos por parte de Kardec; e,
4) Permaneçamos atentos para os estudos e a conclusão das pesquisas
espaciais, que poderão confirmar totalmente a hipótese da tese espírita
sobre a constituição e categoria espiritual do planeta Marte, ou talvez,
possam demonstrar, na prática, que os ensinos espirituais e/ou a
recepção humana destes estavam equivocados, razão pela qual, ante a
prova científica, devamos, caso isto ocorra, ficar com esta, abandonando
os ensinos originários.
De nossa parte, acreditamos no teor das mensagens espíritas que integram
a Codificação e, acompanhando os resultados científicos, dentro em
breve, estaremos diante de mais uma circunstância fática de comprovação
das teses espíritas em nossos tempos. Em outras provas, será a Ciência,
uma vez mais, atestando aquilo que o Espiritismo já nos demonstrou desde
meados do século XIX, antecipando, portanto o progresso.
Quem viver, verá!
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